Cada vez mais a construção civil busca meios de industrializar seus processos, mudar e procurar alternativas construtivas diferentes, tudo com o intuito de melhorar uma única coisa, o CONTROLE. Num setor em que a cultura do controle ainda é extremamente difícil e pouco assertiva, mudar o “jeito” que se constrói, tentando industrializar ao máximo seus processos, ajuda a identificar onde estão as falhas, sejam elas de definição de escopo, custo, tempo e etc. Se você tem mais controle, você sabe exatamente quanto gasta, quanto tempo dura, e que qualidade tem. Assim você pode, além de melhorar a margem de lucro, oferecer um produto melhor a seus clientes.
Paredes de concreto moldadas in loco
Mas o que paredes de concreto moldadas in loco tem a ver com industrialização?
Imagine no sistema tradicional onde você teria que controlar argamassa de assentamento dos blocos e, por sua vez, cimento, areia, cal e água. Depois, teria que controlar o assentamento de blocos cerâmicos, bem como sua mão de obra e desperdício. A mesma coisa para o chapisco, emboço, reboco, as peças estruturais, pilar, viga e laje, as instalações elétricas e hidráulicas embutidas e, ainda, a logística de tudo isso no canteiro. Se for edificação vertical, mais ainda, a preocupação com a logística.
No sistema PAREDES DE CONCRETO MOLDADAS IN LOCO, você diminuiria drasticamente a quantidade de itens a serem controlados, pois praticamente só teria a montagem e desmontagem da fôrma, a armadura, as instalações e concretagem, deixando o processo muito bem industrializado, aumentando o controle e melhorando a assertividade do resultado.
As paredes de concreto moldadas in loco não são exatamente uma novidade. Há exemplos como a capital federal Brasília, que tem muitas paredes de concreto e foi construída no final da década de 50. O sistema ganhou grande peso na construção civil brasileira nos últimos anos, com o grande impulso dos órgãos financiadores para projetos habitacionais em grandes escalas.
NBR 16055
Grandes construtoras começaram a migrar para o método, pois há um grande ganho principalmente de produtividade, e houve uma necessidade de maior atenção do setor. Assim, em maio de 2012, a ABNT lançou a NBR 16055 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos. A norma não tem limites de pavimentos, regulamentando e consolidando a utilização do método construtivo no Brasil, principalmente nos quesitos de conforto térmico, acústico, estrutural.
A evolução do mercado
O mercado de produtos específicos para paredes de concreto tem evoluído bastante. Hoje temos uma grande variedade de fôrmas no mercado, das mais diversas tipologias, mas em sua grande maioria são fôrmas de alumínio ou mistas. As mistas tem fôrmas de madeira com travamento metálico, fôrmas de plástico com travamentos metálicos, e assim por diante. Existem também todos os periféricos, como caixinhas de energia, espaçadores e sistemas hidráulicos próprios para o sistema construtivo.
Sem dúvida nenhuma o grande empecilho para a adoção do método era o custo, principalmente das fôrmas, de modo que a viabilidade do sistema só se dava em um grande número de unidades iguais. Mas com a concorrência e o mercado em crise como está hoje, existem algumas empresas que alugam o sistema de fôrmas adequado para a sua necessidade por períodos menores, o que faz com a viabilidade também se mostre viável para pequenas quantidades de unidades habitacionais.
Saiba mais
Um grande cuidado que se deve ter no sistema construtivo é com o concreto, pois além de ser o maior insumo, ele exige cuidados especiais. Como a parede tem uma espessura relativamente pequena, em torno de 10 cm na maioria das vezes, e ainda temos a armadura de aço, e as instalações embutidas, fica difícil o adensamento do concreto por vibração, assim se utiliza o concreto auto adensável, que tem como característica principal um alto grau de trabalhabilidade e auto adensamento sem prejudicar sua resistência. Neste concreto o slump tradicional é por volta de +/- 23 cm, ou seja, muito alto, exatamente para que o concreto preencha todos os vãos e consiga percorrer por debaixo das janelas, por exemplo.
Então para se chegar nessa trabalhabilidade se faz o uso de aditivos plastificantes ou super plastificantes. Um outro ponto a se destacar é que a granulometria máxima do agregado graúdo (brita) é por volta de 10 mm ou a chamada “brita 0”, pois assim o concreto consegue chegar a pontos mais difíceis sem causar as tão temidas “bicheiras”. Na maioria destes concretos também existe a adição de fibra de polipropileno que ajuda na retração do concreto, visto que sua área de contato com o sol é muito grande.
Vantagens e perspectivas
O grande trunfo do sistema construtivo é a produtividade, sem a necessidade de grandes resistências para desfôrma. Em razão deste concreto, em 12h já é possível fazer a desfôrma e começar a montar a fôrma na próxima unidade habitacional – dependendo do projeto, mas em uma grande maioria das vezes (projetos de unidades com no máximo 60m²), a produção é de uma unidade habitacional por dia com um jogo de fôrma e uma equipe de aproximadamente 8 montadores de fôrma. Uma casa por dia é uma altíssima produtividade. Sem contar os outros benefícios, como reduzir drasticamente a quantidade de insumos e, consequentemente, gerar muito menos resíduos, a redução do prazo global e a diminuição dos custos fixos do canteiro.
De maneira geral, para uma mínima viabilidade (acima de 20 unidades), o sistema tem se tornado mais viável do que o sistema tradicional na comparação direta de custos. Quando se agrega os outros benefícios como a produtividade e resíduos, a economia é grande.
Grandes construtoras do mercado têm migrado seus sistemas construtivos para este, simplesmente por todos os itens aqui mencionados. O aumento da produtividade e controle é um trunfo que poucas empresas têm. É claro que todo sistema novo para ser implantado passa por inúmeras dificuldades, mas isso tem se mostrado irrelevante aos ganhos apresentados.